Acabei de colocar meu filhos na cama. Meu marido está lá com eles ainda. Ele prefere assim, pois comigo eles tendem a enrolar mais para dormir. E é o momento de ele curtir os filhos também.
Passei o dia me arrastando hoje pela carga de adrenalina que começamos o dia. A aula de yoga foi ótima, mas depois tivemos aquele stress comum da manhã numa casa com criança. Luca não quis acordar para ir a escola, o pai também estava com sono, perdeu a paciência com o filho falando bravo e em tom mais alto, Luca chorou magoado. Enquanto eu amamentava o Yuji no quarto ao lado.
Sim, o Yuji ainda mama. Ele vai fazer 2 anos e 1 mês. Eu já consegui amamentar até os dois anos, mas não é assim simples, completa dois anos e tira o peito!
Ainda que desde que ele começou a comer bem eu já regulava a demanda do peito dele, então faz uns dois meses que ele só mama quando acorda, não fica puxando minha blusa ao longo do dia e graças a Deus (mas passamos por esta fase, é natural quando se está limitando a demanda), e dorme bem a noite, não acorda para mamar.
Com isso, amamentar não é algo que me incomode. É um momento nosso da manhã… o problema é que eu também tenho que ajudar o irmão dele a se trocar, escovar os dentes e ir para escola. O irmão vê o caçula mamando e sempre pede café da manhã. “Você vai ter lanche na escola”, eu digo. Mas ele sempre quer café da manhã em casa também, pois sabe o que tem, é previsível e ele pode escolher.
Meu marido sempre me apoiou nas duas amamentações. Se não fosse por ele, é provavel que eu tivesse desistido no começo, foram muitas dificuldades, mas ele estava lá me apoiando, segurando minha mão quando eu queria gritar de dor.
Ele pegava nossos bebês para arrotar depois da mamada, ambos tinham refluxo e precisavam ficar elevadinhos por 30 longos minutos. Ele fazia isso para eu não perder tempo de sono, pois a próxima mamada seria logo logo…
Se não fosse meu marido, eu não teria amamentado todo esse tempo… então acho que foi justo para ele ficar bravo comigo e com a situação quando hoje ele viu que eu não estava ajudando com a briga do mais velho de ir para escola, pois eu estava amamentando. Ele disse que o pequeno já toma leite de vaca no copo as vezes, que já sabe ficar sem peito. E eu sei que sabe, mas quando eu sou a primeira pessoa que ele vê de manhã, ele ainda pede.
Ele chegou a ficar uns 4 dias sem mamar. Achei que tinha chegado ao fim. Mas me incomodava o fato da última mamada ter sido durante minha sessão virtual de terapia… ele ficou pedindo peito enquanto eu tentava fazer terapia e eu sozinha com ele de manhãzinha acabei cedendo… e depois disso o pai deu conta de direcioná-lo para o café da manhã até que no quinto dia eu apareci como primeira pessoa de novo…
Mas no dia anterior a esse quinto dia… Luca perguntou: “mamãe, por que leite de vaca? Por que este nome?” E eu disse que era porque vinha da vaca… e ele voltou a perguntar “como sai da vaca?” E eu expliquei que a vaca tinha tetê também.
Mas pensei comigo sem dizer para ele: “e a gente usa o leite do filho da vaca para nós, enquanto a mamãe está deixando de dar o dela… que seria mais adequado para consumo humano e mais completo…” incomodada com meu pensamento desconversei e disse “do leite que fazemos o queijo que você tanto gosta”. E ele logo se distraiu…
Aquele diálogo ficou na minha cabeça, junto do fato da despedida do tetê não ter acontecido… eu não pretendo ter mais filhos… logo, eu também preciso me despedir também…
É só a mamada da manhã, só neste momento eu posso dar o alimento mais vivo e valioso que existe. Sim, meu leite não virou água, não existe isso!
Ele tem dois anos e um mês, ele está descobrindo outras ferramentas de aconchego comigo, ele já dorme no meu ombro sem pedir peito, ele se acalma só com meu carinho e com meu beijinho; quando está entediado assistimos televisão juntos ou inventamos alguma brincadeira. Se em todas essas situações ele já sabe como lidar, sei que em breve ele saberá o que fazer quando acordar, mesmo que eu seja a primeira pessoa que aparecer no raiar do dia.
Quando este dia chegar, sentirei um mix de tristeza pelo que terminou, e felicidade pelo que está por vir. Enquanto isso sigo desfrutando este privilégio de dar algo mais nobre para o meu filho que o leite que a vaca daria para os filhos dela…
Obrigada, filhos, marido, por terem me permitido ser o mais nobre dos alimentos!